Trajetórias empreendedoras desenvolvidas na UFPA são aprovadas no Programa Startup Pará

Atualizado em: 05/08/2021 às 13:59
Tempo de leitura: 7 minutos

Kátia Omura possui doutorado em Neurociências, é professora do curso de Terapia Ocupacional e idealizadora do Memory Life, aplicativo desenvolvido para estimular a cognição de idosos com Alzheimer por meio de jogos de memória e de lógica. Wilson Ferreira é mestrando em Engenharia Civil e sócio-fundador do Amana Katu, negócio social que busca universalizar o acesso à água na Amazônia a partir do desenvolvimento de um sistema de baixo custo capaz de captar a água da chuva e torná-la potável. Jonas Cunha é graduando em Engenharia de Bioprocessos e idealizador da Biomimética, startup que desenvolve películas comestíveis ultrafinas que prolongam o tempo de vida dos alimentos. Certo que a Universidade Federal do Pará (UFPA) foi o “celeiro” para o desenvolvimento das três iniciativas, mas o que mais Kátia, Wilson e Jonas têm em comum?

O empreendedorismo é o ponto em que as trajetórias dos três se encontram. Eles também se juntam a milhões de brasileiros que desenvolvem e tocam os seus próprios negócios. Segundo dados do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), um em cada quatro brasileiros adultos estão envolvidos na abertura de um novo negócio ou têm um negócio com até 3,5 anos de atividade. Em 2019, a taxa de empreendedorismo inicial do país chegou a 23,3%, atingindo um patamar consideravelmente maior do que o de outros países emergentes, como China, Índia, Rússia, África do Sul e México.

Durante o mestrado, Kátia Omura foi selecionada pela Comissão Europeia para estagiar na Universidade de Nápoles , na Itália, onde concluiu o doutorado em Neurociências.

Engana-se quem pensa que as trajetórias empreendedoras de Kátia, Wilson e Jonas tiveram início agora. Kátia foi uma das cientistas escolhidas pela 3M para receber a premiação 25 Mulheres na Ciência na América Latina, que visa destacar os talentos femininos que desenvolvem pesquisas e projetos inovadores, capazes de gerar impacto positivo na sociedade e com histórias inspiradoras. Além do Memory Life, foi submetido à premiação outro projeto desenvolvido na UFPA, o SexAdapt, aplicativo em que são mapeados motéis e pousadas na Região Metropolitana de Belém que são acessíveis às pessoas com deficiência. Ambos os projetos também foram premiados na primeira edição do Programa MOVER, iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) executada, no Pará, pela Universitec.

Wilson Ferreira, sócio-fundador do Amana Katu, durante a instalação de sistemas de captação de água da chuva na Ilha do Combu, em Belém.

Wilson recebeu o Prêmio Mútua/Anprotec de Inovação e Empreendedorismo e foi reconhecido pelo Governo do Pará pelos relevantes serviços prestados à sociedade e ao desenvolvimento sustentável do estado. Já o Amana Katu nasceu no Desafio Inove+ 2017, competição promovida pela Universitec a fim de oportunizar o desenvolvimento de soluções idealizadas por estudantes que possam atender às demandas sociais. Um ano mais tarde, o Amana Katu venceu o World Water Race 2018, disputado no Vale do Silício. Em 2019, conquistou o segundo lugar do mesmo campeonato, que premia as melhores iniciativas mundiais na temática de água e saneamento. A iniciativa também venceu o Ford Mobility Innovation Challenge e o Ford Building Sustainable Communities, dois desafios que premiam iniciativas que atendem às necessidades humanas de maneira inovadora, beneficiando comunidades e desenvolvendo regiões mais sustentáveis.

Jonas Cunha, idealizador da Biomimética, durante pitch no evento de encerramento do Desafio Inove+ 2019.

A equipe liderada por Jonas conquistou o primeiro lugar na categoria Empreendedorismo Inovador do Desafio Inove+ 2019 com o RevFood, bioplástico líquido desenvolvido pela Biomimética. Em 2020, a iniciativa venceu a HackBrazil, iniciativa da Brazil Conference at Harvard & MIT, que objetiva desenvolver startups que resolvam grandes problemas do Brasil por meio de ideias inovadoras e empreendedoras. Jonas também foi eleito o inovador do ano pelo júri do Falling Walls Lab Brazil 2020, competição que premiou os idealizadores das ideias mais transformadoras do ano no país.

Em fevereiro deste ano, as iniciativas de Kátia, Wilson e Jonas foram aprovadas na segunda etapa de seleção do Startup Pará, programa do Governo do Estado em incentivo à estruturação de ambientes locais promotores de inovação de base tecnológica. Lançado em dezembro de 2019, o Startup Pará contou com a coordenação da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Profissional e Tecnológica (Sectet) e da Secretaria de Planejamento e Administração (Seplad). Nesta etapa, os projetos selecionados receberão mentorias com especialistas para validar os seus modelos de negócios e, ao final, poderão ter acesso a uma rodada de investimentos a fim de acelerar o desenvolvimento das suas soluções.

Abaixo, leia na íntegra os depoimentos de Kátia, Wilson e Jonas. Eles contam um pouco mais sobre o papel da Universidade nas suas trajetórias empreendedoras e também compartilham dicas valiosas aos que querem ser bem-sucedidos ao empreender.

1. De que forma as atividades desenvolvidas na Universitec — e na UFPA em geral — influenciaram positivamente a sua trajetória empreendedora?

Kátia Omura: As atividades realizadas na Agência foram fundamentais para o desenvolvimento do meu perfil empreendedor. A partir delas, tive contato com diversos profissionais com expertise em áreas estratégicas para o desenvolvimento do meu negócio. Graças ao apoio da Universitec, tive a oportunidade de aprender mais sobre o mundo dos negócios de tecnologia e de inovação.

Wilson Ferreira: Sempre enxerguei a Universidade como uma fábrica de oportunidades em todos os níveis (ensino, pesquisa e extensão), ainda mais se tratando da UFPA, uma Universidade pública. Também sempre busquei participar das atividades promovidas pela Universitec, como cursos e eventos, o Desafio Inove+ e também o Time Enactus UFPA, do qual fui membro por três anos. Todas essas oportunidades foram a base para despertar em mim a vontade de trilhar uma trajetória empreendedora.

Jonas Cunha: As atividades desenvolvidas na Agência foram primordiais para o sucesso da Biomimética em competições de empreendedorismo e editais, como o Startup Pará. A partir das palestras promovidas pela Universitec por meio do Desafio Inove+, por exemplo, conseguimos absorver conhecimentos que nos permitiram comunicar de forma breve, didática e objetiva o nosso produto, sendo possível que até ideias complexas fossem compreendidas por pessoas de variadas áreas do conhecimento. Esse tipo de relação com a comunicação empreendedora permitiu que os conhecimentos que obtive durante a minha graduação pudessem ser transformados em projetos reais e capazes de impactar a sociedade de forma positiva. No entanto, vejo a necessidade de que diversas instituições se movam para formar um ambiente empreendedor e permitir que outras iniciativas reais sejam desenvolvidas nas universidades. Justamente por isso, a própria UFPA propiciou um ambiente favorável para isso, garantindo a infraestrutura e o investimento adequados em cursos como o meu, a Engenharia de Bioprocessos. Durante o curso, por meio de disciplinas avaliativas, nós somos motivados, todos os semestres, a criar ideias inovadoras relacionadas com sustentabilidade, inovação e biotecnologia. Isso permitiu que eu me tornasse um profissional voltado para solução de problemas.

2. Quais dicas você pode dar para outros acadêmicos que tenham interesse em concorrer e ter sucesso em editais dessa natureza?

Kátia Omura: Acho que se capacitar e construir networking dentro desse mundo do empreendedorismo é fundamental. Estamos em uma Universidade que incentiva muito nesse aspecto, sobretudo a partir das iniciativas da Universitec, que promove desafios universitários que abrem um leque de capacitações e mentorias capazes de ajudar o acadêmico a amadurecer a sua ideia de negócio.

Wilson Ferreira: A dica mais importante para quem está começando a trilhar esse caminho do empreendedorismo é: não seja apaixonado pela solução, mas sim, pelo problema. Dessa forma, aproveite a estrutura e as oportunidades da Universidade para validar e estudar de forma profunda a problemática que o seu projeto busca solucionar. Acredito que é muito mais fácil vender uma ideia para investidores ou empresas quando essa imersão no problema foi realizada de forma efetiva. Ligado a isso, é importante ser ambicioso, planejar não somente os primeiros passos da ideia, mas estruturar o potencial e o “sonho grande” que ela busca alcançar.

Jonas Cunha: Para qualquer acadêmico que queira ter sucesso em editais de financiamento as minhas principais dicas são: forme um time, pois nunca conseguiremos nada sozinhos, empreender é sobre empoderar as pessoas e permitir que elas assumam posições de liderança ao seu lado; assuma a missão de resolver um problema e, com a ajuda do seu time, crie um projeto voltado para a solução dele, utilizando como base valores como respeito pelas pessoas e meio ambiente; e procure por editais, competições e desafios de empreendedorismo e aprenda através deles como estruturar seu projeto e fazer sua ideia virar realidade, porque existe uma forma de comunicação-padrão nesse ambiente empreendedor e dominá-la vai permitir que você se destaque no mundo do empreendedorismo.

Para o professor José Augusto Lacerda, à frente da Coordenação de Empreendedorismo da Agência desde 2018, a Universidade exerce uma função primordial ao instigar habilidades e competências que acabam por convergir na formação empreendedora de acadêmicos. “As trajetórias de changemakers com perfis tão distintos, como é o caso de Kátia, Wilson e Jonas, refletem muito mais do que o inegável mérito de cada um. Em conjunto, elas ilustram a efetividade de inúmeros programas de fortalecimento do empreendedorismo no ambiente universitário e ainda contribuem para demarcar o protagonismo da UFPA no ecossistema de inovação da Amazônia”, conclui.

Sobre a segunda etapa do Startup Pará

Ao estimular empreendimentos que usem inovação como base de suas atividades, criando um centro de referência na área para atrair e formar negócios em todo o estado, o Startup Pará busca incentivar, por meio de políticas públicas, a criação e o desenvolvimento de atividades inovadoras em áreas como Educação, Energia, Mineração, Saúde e Qualidade de Vida, Biotecnologia, Administração Pública e Logística.

Nesta etapa, está prevista a qualificação técnica das 30 propostas selecionadas, sendo 15 na modalidade de aceleração e 15 na modalidade de novos negócios. Os proponentes aprovados terão acesso, a partir de agora, a mentorias com especialistas para validar os seus modelos de negócios, bem como a outros serviços. Além disso, após a etapa avaliativa final, a Fapespa oferecerá apoio financeiro não reembolsável a dez projetos de cada modalidade. Para os novos negócios, o apoio financeiro pode chegar a 80 mil reais. Já as startups selecionadas na modalidade de aceleração receberão até 200 mil reais.

Entre os seus objetivos, o Startup Pará vai apoiar projetos e startups, ainda que em fase de ideação, voltados à criação e implementação de soluções, métodos e processos de base tecnológica, que explorem a inovação e a cultura empreendedora como instrumento estratégico para contribuir com o desenvolvimento sustentável do Pará, viabilizando o surgimento de novas empresas inovadoras capazes de promover a geração de negócios de maior valor adicionado, descortinando alternativas de emprego com melhores salários e a possibilidade da formação, atração e fixação de recursos humanos mais bem qualificados.

Clique aqui para saber mais sobre o Startup Pará.


Este texto foi produzido a partir de informações da Agência Pará de Notícias e da Fapespa.

Leia também