Presidente da Martinica e UFPA anunciam parceria na pesquisa da biodiversidade

Publicado em: 17/04/2014 às 15:14
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“O desafio das nossas regiões, historicamente colonizadas no passado, é não permitir uma nova colonização: a tecnológica”, enfatizou Serge Letchimy, presidente do Conselho Regional da Martinica. Para ele, a posição da Amazônia deve ser de protagonista no desenvolvimento de inovação para o futuro. “O esgotamento da base energética atual, que é o petróleo, é algo inevitável. Além de ser ecologicamente danoso, o petróleo instituiu uma relação nociva entre as nações. Isso deve ser reinventado e nós precisamos estar à frente desse processo”, afirmou o presidente, durante a palestra “Biodiversidade e Desenvolvimento” realizada nesta quinta-feira (17), no auditório da Universitec. Na ocasião, foi anunciado um plano de parceria na pesquisa de tecnologia em biodiversidade entre as regiões.

O encontro, promovido pela Universidade Federal do Pará, por meio da Agência de Inovação Tecnológica da UFPA – Universitec, reuniu autoridades de secretarias do governo do estado, empresários, estudantes e pesquisadores. Para Letchimy, a parceria com o maior instituto de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia do Pará, a UFPA, é estratégica para economia da Martinica e da região Norte, áreas de grandes recursos naturais, sujeitas a desafios relacionados às mudanças ambientais e climáticas.

“Essa aproximação é essencial para buscar soluções por meio de políticas de inovação e de pesquisa que definirão as bases de uma nova engenharia do desenvolvimento econômico insular. Nós precisamos da experiência paraense em todas essas áreas de inovação. A biodiversidade, a bioquímica e as riquezas genéticas vegetais são áreas de pesquisa /criação que precisam ser exploradas juntas e numa mesma área geográfica, para uma melhor compreensão, proteção e valorização dos nossos recursos naturais, também sujeitos a pressões multinacionais para à sua acessibilidade e partilha”, analisa o presidente.

Para Gonzalo Enriquez, diretor da Universitec, o intercâmbio proporciona uma troca de experiências com o governo que possui um dos melhores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) da América do Sul. “A Martinica traz uma experiência fundamental: tem um IDH excelente, seu povo tem qualidade de vida. O Brasil, por outro lado, é a sétima economia do mundo, mas sofremos com a concentração de renda que deixa tantos brasileiros na miséria. No Pará, 30% da população sofre com a pobreza severa, apesar de sermos um estado riquíssimo em biodiversidade. Precisamos equacionar isso. O nosso maior interesse, como instituição, é desenvolver tecnologia a fim de agregar valor aos produtos da Amazônia e distribuir riqueza”, analisa o gestor agência, referência na inovação e produção de conhecimento na área de biodiversidade na Amazônia.

A palestra contou ainda com a participação dos pesquisadores Philippe Joseph, professor de botânica, ecologia e biogeografia na Universidade das Antilhas e Guiana, e Emmanuel Nossin, farmacêutico e etnofarmacólogo, que destacou a importância de investir em medicamentos criados a partir de insumos naturais. “Nos países do Caribe, o sistema de saúde não só admite como incentiva o uso de fitoterápicos, que causam menos efeitos colaterais, são eficientes e não poluem a natureza”, afirmou Nossin. Para ele, a busca por desvendar os princípios ativos da flora amazônica deve ser constante. “Não sabemos, por exemplo, se o açaí possui alguma propriedade eficiente no combate à AIDS ou ao câncer. A verdade é que a solução para muitos males está na floresta e podemos nos apoiar na cultura tradicional desses povos”, frisou.

Ao final do encontro, o presidente da Martinica e os pesquisadores expuseram o interesse de retomar um projeto de rede junto a estudiosos e empresários do Pará. “O interesse é mútuo. Em breve, enviaremos uma comitiva de pesquisadores da UFPA que, por meio da Universitec, irão realizar uma visita a universidades da Martinica, para que essa proximidade entre as regiões se efetive”, anunciou o reitor da UFPA, Carlos Maneschy.

Desafios globais – Para o presidente da Martinica, discutir sustentabilidade e desenvolvimento econômico é um imperativo para os governos modernos, sobretudo em territórios que concentram riquezas naturais, diante de debates globais como a questão energética e a concentração de renda. “Tal linha de política econômica é ao mesmo tempo promissora e urgente. Direcionar-se para a energia renovável, o desenvolvimento sustentável, para a exploração proporcionada ​​da produção endógena são os únicos meios para criar nos países em desenvolvimento tanto uma ética como um crescimento econômico compartilhados pelo maior número de pessoas”, avalia Letchimy, que destaca ainda a urgência em se rever as bases éticas do desenvolvimento econômico dos países. “A mudança de perspectiva se faz urgente, porque o mundo está enfrentando mudanças que devem ser antecipadas o mais rápido possível, para evitar o caos climático e ecológico, necessariamente cultural e social conduzindo à fome, a violências climáticas, ao surgimento de fundamentalismos”.

Cooperação com o Pará – O evento integra a agenda de Letchimy no Pará, onde estará em visita até 18 de abril para assinar uma convenção de cooperação descentralizada entre o Pará e a Região da Martinica. A cooperação entre as regiões tem um caráter múltiplo e abarca setores como o desenvolvimento de energias renováveis, biodiversidade e nutrição animal; a transferência de tecnologia no campo da agroindústria e pecuária; a busca de sinergia em produtos farmacêuticos e na área da farmacopeia; o setor do turismo e da cultura.

Nesses segmentos, de acordo com Letchimy, o objetivo da cooperação é criar uma relação baseada em intercâmbios econômicos e comerciais, e estabelecer uma política de investimento comum junto ao Pará, usando o duplo posicionamento da Martinica: país do Caribe e espaço europeu. “Esta posição dupla oferece oportunidades excepcionais para a produção na Martinica, a partir do importação proveniente do Brasil e podendo ser exportado para o mercado europeu. Além disso, podemos compartilhar o nosso know-how em áreas como a carpintaria, energia renovável e farmacopeia, produtos exportáveis no Caribe e na América do Sul”, afirma.

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