Pesquisadores da UFPA criam plástico de buriti

Publicado em: 14/08/2015 às 15:21
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Mauritia flexuosa
. Nome estranho para uma das plantas mais comuns da Amazônia paraense. O buriti ou miriti serve de alimento e também é matéria-prima para os famosos brinquedos encontrados durante o Círio de Nazaré, em Belém. Mas professores do Programa de Pós-Graduação em Física da Universidade Federal do Pará (UFPA), pioneiros em pesquisas sobre as propriedades do óleo de buriti, garantem: ele pode ser usado para a criação de produtos, como protetores solares, películas para janelas, óculos de sol e até células solares.

Buriti é protetor solar natural – O pesquisador Sanclayton Moreira, do Programa de Pós-Graduação em Física da UFPA, estuda, desde 1995, as propriedades de proteção solar do óleo de buriti extraído da polpa do fruto. “Publicamos, naquela época, as pesquisas que revelavam as propriedades de proteção solar do óleo de buriti e suas propriedades físicas, o que é algo muito complexo porque, além da variação de propriedades entre diferentes plantas, um mesmo vegetal pode, também, ao longo do ano, produzir óleos com características diferentes, ou seja, ele sofre influência da sazonalidade.”

Difusividade térmica – Ele explica que, para utilizar uma matéria-prima na produção de protetores solares, é preciso que ela tenha duas propriedades: capacidade de absorção da radiação ultravioleta – raios UVA, UVB e UVC – e boa difusividade térmica. “Essa é a propriedade relacionada com a velocidade com que o calor se propaga num meio. Isso é importante porque, se alguém usar na pele uma camada de protetor solar com a capacidade de absorção da radiação solar, esse material poderia gerar calor e ‘queimar’ a pele do usuário. Porém um protetor que, além da capacidade de absorção, tenha uma boa difusividade térmica, esse calor gerado se propaga rapidamente para o meio e não esquenta ou causa queimaduras na pele.”

Pesquisadores analisam óleos da região – O Grupo de Pesquisas Física de Materiais da Amazônia, do qual Sanclayton Moreira é o coordenador, estuda as propriedades de vários óleos vegetais da região e, entre todos, o óleo de buriti e o de palma se destacam. “Já estudamos muitos óleos, como o óleo de açaí, de andiroba, de copaíba, óleo de castanha. Entre eles, o de buriti se destaca porque essa capacidade de proteção solar, devido a sua composição química, é algo inerente a ele, é natural dele.”

Segundo o físico da UFPA, a alta concentração de β-caroteno no óleo de buriti é o que o torna um excelente protetor solar e atribui-lhe a coloração vermelho-alaranjada, típica. Além disso, os ácidos graxos, como ácido oleico, tocoferóis e carotenoides, ajudam na absorção de energia ultravioleta, que faz mal à pele.

“Matérias-primas ricas em β-caroteno, como a cenoura e o buriti, são usadas por várias marcas de protetores solares, que, às vezes, também usam diretamente o β-caroteno. Mas não recomendamos aplicar diretamente o óleo de buriti puro na pele. Isso porque o cheiro talvez não seja tão agradável, a gordura do óleo pode incomodar. Além disso, não realizamos aqui, no Laboratório de Física, pesquisas sobre os impactos na saúde sobre o uso do óleo, apenas verificamos suas propriedades físicas.”

Plástico com propriedades do buriti– Atualmente, os pesquisadores da UFPA estão realizando estudos em parceria com outras universidades, como a Federal de Minas Gerais (UFMG) e a de Brasília (UnB), para a produção de polímeros e outros materiais sólidos que contenham nanopartículas de óleos vegetais da Amazônia, e/ou outras nanopartículas, como os nanotubos de carbono, o que faz com que os novos materiais criados herdem parte de suas propriedades naturais dos óleos vegetais da Amazônia.

Os polímeros modificados com a inserção de substâncias diferentes são conhecidos no meio científico como “blendas ou compósitos”. “Estamos trabalhando na fronteira destas pesquisas e criamos uma metodologia para fazer essa inserção dos óleos vegetais no polímero. O plástico, que inicialmente é transparente, ganha uma coloração diferente dependendo do tipo e quantidade de óleo vegetal que inserimos”, relata Sanclayton Moreira.

Estas novas substâncias criadas em laboratório têm como vantagem a praticidade, pois o manuseio de plásticos que tenham propriedades como o fator de proteção solar ou a reação à energia luminosa, como é o caso da blenda com óleo de buriti, podem ser usados para a criação de novos produtos com grande potencial de uso em dispositivos como células solares ou LEDs.

Buriti pode ser usado em LEDs – “Como eles emitem luz e a absorvem, podem transformar energia solar em energia elétrica. Dessa forma, podemos criar produtos como células solares – usadas em painéis solares para captação de energia solar – ou lâmpadas LED para telas de computadores, TVs e celulares”, adianta Sanclayton Moreira. No Laboratório de Pesquisa de Polímeros da Universidade de Brasília, uma lâmpada LED foi criada com este material e as pesquisas continuam para dar mais estabilidade a esta nova tecnologia.

Por outro lado, as propriedades do óleo de buriti já conhecidas, como é o caso do fator de proteção solar, fazem com que o novo plástico criado possa ser usado para produção de películas a serem aplicadas em janelas de vidro de residências e veículos ou para a criação de óculos de sol.

“Uma lâmpada feita somente com o óleo de buriti em um recipiente de vidro poderia se quebrar e derramar, acarretando uma ‘grande sujeira’, o que, certamente, traria transtorno para quem a usa. Neste sentido, ao se produzir um material sólido (blenda polimérica) contendo micro e nano gotas de óleo, se incorpora ao plástico todas as propriedades do óleo vegetal. O que facilita a manipulação do novo plástico pela indústria no momento de fabricar os novos produtos, e facilita, também, a manipulação destes novos produtos pelos consumidores”, considera o pesquisador da UFPA.

Sanclayton Moreira defende que estudar as propriedades dos óleos vegetais da Amazônia é fundamental para que o conhecimento, as patentes e os recursos, que possam ser gerados com as descobertas, beneficiem a população da região. “Por isso, nosso interesse é descobrir as características destes óleos e indicar aplicações para cada novo material criado.”

 


Texto: Glauce Monteiro – Assessoria de Comunicação da UFPA

Fotos: Cleo Viana e Reprodução / Google

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