Quem olha as obras da ponte sobre o Rio Moju não tem ideia de que existe todo um trabalho de avaliação, diagnóstico e soluções para recuperar a estrutura, danificada ao ser atingida por uma balsa no ano passado. E, provavelmente, também não faz ideia de que boa parte da mão de obra especializada é genuinamente paraense. Prova de que, às vezes, não é preciso ir longe para contar com serviços e produtos de alta tecnologia e profissionais preparados para oferecer soluções inovadoras e criativas.
No Pará, já são vários os exemplos de empresas que nasceram aqui e atuam com esse objetivo. Na ponte sobre o Rio Moju, a responsável pelo trabalho de verificação do projeto de reforço e monitoração da ponte é a Dynamis Techne, que, diferente das tradicionais empresas do ramo que focam na área de construção civil, é especializada em engenharia estrutural, desenvolvendo projetos e atuando também no diagnóstico e soluções para estruturas que sofreram algum tipo de dano ou que precisam ser reforçadas devido à mudança no uso. Remo Magalhães de Souza, Ph.D. em Engenharia Estrutural pela University of California at Berkeley, sócio e diretor técnico da empresa, conta que na ponte existem danos bastante visíveis – como gida pela embarcação –, associados a outros danos menores, detectados graças a uma inspeção minuciosa e à experiência dos profissionais da empresa. Eles detectaram novas avarias causadas pelo impacto da embarcação, além de outras previamente observadas, como o movimento de cerca de 50 cm em parte da ponte, que precisou ser corrigido.
A estrutura foi, então, levantada e empurrada de volta para a posição original. Além disso, após a fase de diagnóstico e solução, a equipe também monitora a execução das ações recomendadas para a reparação do dano à estrutura, garantindo assim a qualidade na entrega. As operações de movimentação da estrutura danificada, por exemplo, são completamente monitoradas pela empresa. “A nossa inserção no mercado com o atendimento de grandes empresas se dá pelo fato de atuarmos num segmento muito especializado. É um trabalho difícil, que exige experiência e conhecimento e também requer investimentos em equipamentos caros”, explica Remo.
Outro trabalho realizado pela empresa é a análise do Porto de Vila do Conde. Ao naufragar em 06 de outubro deste ano, o navio Haidar, que levava um carregamento de 5 mil bois vivos, também se chocou contra a estrutura, danificando parte da construção. Em quase três anos de existência, a Dynamis Techne conquistou uma cartela de grandes clientes locais como Vale, Infraero, Hydro Alunorte, Imerys, Companhia Docas do Pará, Leal Moreira, Paulitec e Governo do Estado. Criada em 2012, a empresa é uma spin-off acadêmica – como são conhecidas as empresas derivadas de universidades ou centros de pesquisa. Ela surgiu do Núcleo de Instrumentação e Computação Aplicada à Engenharia (NICAE) da Universidade Federal do Pará (UFPA) que, desde 2003, reúne pesquisadores da instituição. O núcleo despertou o interesse de empresas como Eletronorte, Celpa, Hydro Alunorte e Vale que, desde o início, estavam de olho nos resultados que os profissionais poderiam oferecer. Isso foi decisivo para o nascimento de uma empresa. Devido à origem acadêmica da Dynamis Techne, os profissionais que ali trabalham são professores, ex-alunos de graduação e de mestrado, além de engenheiros contratados. E, como a companhia tem forte atuação no setor de tecnologia e possui como característica a inovação, ela está sediada na Incubadora de Empresas da Agência de Inovação da UFPA.
Tecnologia redescobre o açaí
O açaí em polpa virou uma febre no mercado nacional, especialmente ao se popularizarem no restante do país as misturas com frutas e granola, um energético muito apreciado. Mas o açaí desperta interesse também pelos antioxidantes presentes no fruto: a substância é uma importante aliada no combate ao envelhecimento precoce e também de doenças cardíacas e da diabetes. No Pará, um grupo de pesquisadores da UFPA viu esse potencial e investiu em pesquisa para chegar a um portfólio de produtos de alto valor agregado, genuinamente amazônicos, que vão desde o óleo e o biorresíduo de açaí, até extratos purificados de espécies vegetais, ricos em antioxidantes naturais, em forma líquida ou em pó. O diferencial com relação aos similares presentes no mercado é a alta pureza e concentração de antioxidantes (até 70%), custos menores e menor geração de resíduos, por meio de processos que não utilizam solventes químicos ou substâncias conservantes.
As indústrias em potencial para o produto são especialmente a alimentícia, a farmacêutica e a de cosméticos. Focado em transformar os resultados da pesquisa em negócios, o grupo fundou a Amazon Dreams, uma startup, ou seja, empresa em fase de desenvolvimento e pesquisa. As startups têm como característica a busca por um modelo de negócios repetível – capaz de vender o mesmo produto para todos os clientes – e escalável – capaz de crescer para atender grandes quantidades de clientes. Expertise e vontade de crescer fazem a diferença Antes desse sonho se materializar, houve um longo caminho percorrido. Em meados de 2001, o grupo de pesquisadores, formado pelo professor Hervé Rogez, Doutor em Ciências Agrárias e Engenharia Biológica pela Université Catholique de Louvain (UCL, Bélgica), e ex-alunos da UFPA investiram no desenvolvimento de uma polpa pasteurizada do açaí. “Mas o mercado não estava interessado na qualidade e sim no preço. Então as vendas não iam bem”, relembra Afonso Ramôa Jr., diretor da Amazon Dreams.
Ele conta que o grupo entrou em um período de hibernação pelas dificuldades encontradas e decidiu, então, reformular a estratégia do negócio, desenvolvendo tecnologia em parceria com a Universidade Federal do Pará para extração, purificação, fracionamento e quantificapesquisa_novos negócios ção de compostos bioativos de matrizes vegetais, resultando em processos patenteados (PI 1003060-3 e PI 0925414-5) para a extração de antioxidantes do açaí, ingá e muruci, com foco em sustentabilidade. Eles também fizeram inscrições em programas de fomento, com o intuito de aplicar os recursos em mais pesquisa e desenvolvimento. Com os aportes recebidos, os pesquisadores puderam desenvolver também produtos a partir de outras plantas e sementes da Amazônia como o urucum, guaraná, embaúba-branca, pata de vaca, quebra-pedra e pariri. Segundo Afonso Ramôa Jr., agora a empresa já conversa com investidores. “O próximo passo é começar a produzir os extratos em escala industrial e colocá-los à venda no mercado”, finaliza.
De onde vêm as boas ideias
A Universitec é a Agência de Inovação Tecnológica da Universidade Federal do Pará – UFPA. É onde empreendedores com boas ideias ganham força para desenvolver suas empresas. Instituída por meio da resolução nº 662 CONSUN de 31 de março de 2009, foi criada como propósito de contribuir para a promoção, a aplicação e a difusão do conhecimento produzido na UFPA, em prol da competitividade e inovação tecnológica para o fortalecimento da economia paraense, agregando valor a produtos da biodiversidade local. A Universitec oferece serviços de incubação de empresas de base tecnológica, consultoria em gestão empresarial, serviços de propriedade intelectual e desenvolve ações de fomento ao empreendedorismo.
Texto: Pará Industrial – Fiepa